As Obras de José de Alencar

03 junho 2012

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Consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, político conservador, monarquista, escravocrata, burguês. Pode-se perceber o medievalismo no personagem de O Guarani, Peri (bom selvagem) que deveria respeitar a realidade social de que ao senhor de tudo deve-se obediência, respeito e lealdade. Defende o “casamento” entre o nativo e o colonizador numa troca de favores (temática presente em O Guarani - Ceci e família e Peri e em Iracema com Moacir, filho de Iracema e Martim. Tudo isso traduzido numa linguagem coloquial, diálogos bem feitos por sua formação de professor de Português.
Sua vasta obra conta com romances urbanos, históricos, regionais e rurais, além dos indianistas. Iracema é uma obra que denota as grandes características de Alencar: paisagista e pintor de perfis femininos.
 

A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos :
Quanto ao Espaço Geográfico
  • O sertão do Nordeste - O Sertanejo
  • O litoral cearense - Iracema
  • Fogo na babilonia
  • O pampa gaúcho - O Gaúcho
  • A zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do Ipê (zona da mata fluminense)
  • A cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.
ou Quanto a Evoluçao Historica
  • O período pré-cabralino - Ubirajara.
  • A fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani.
  • A ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates (rebelião colonial).
  • O presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.

Resumo de Algumas de Suas OBRAS :

 A Vivuvinha
Conta a história de Jorge da Silva, típico herói burguês, riquíssimo (herança), esbanjador e metido a besta. Até conhecer Carolina, que o faz mudar de vida, com quem noiva e marca o casamento.Às vésperas do casamento do filho, o pai de Jorge investe toda a sua fortuna em negócios suspeitos e perde tudo.
O tutor de Jorge, Sr. Almeida, conta para seu pupilo, Jorge, que não lhe restava nada da herança.
Com o nome sujo, Jorge forja seu suicídio na noite de núpcias, antes de consumar o casamento com Carolina, e vai para os EUA, mudando de nome para Carlos, pretendendo voltar com o nome limpo (rico) e voltar para Carolina. Dito e feito. 5 anos e ele volta para o Brasil, rico.Ele observa Carolina, a viuvinha, na varanda de seu quarto todas as noites e revela-se como Carlos. Ficam “íntimos” e ele pede um encontro. Ela nega-se, dizendo que ainda é fiel ao marido.
Carlos então conta a verdade, revelando ser Jorge, e eles consumam o casamento. Obs: o narrador é narrador-personagem (Jorge) e conta tudo em 1ª pessoa.

 Cinco Minutos
Contado através de cartas dissertativas, escritas pela protagonista (Carlota) à sua vizinha e amiga (Carolina), esposa do narrador que é o mesmo narrador da história da viuvinha (Jorge); o narrador é onisciente, contando tudo em 3ª pessoa. Um rapaz, o herói da história, perde seu bonde por ter atrasado cinco minutos, e pega o próximo trem. Senta-se ao lado de uma dama de preto (toda coberta por panos pretos, apenas a mão fica descoberta).Ele apenas vê suas mãozinhas delicadas e começa a imaginar como seria seu rosto; ele a corteja. 
Ela agradece e desde do bonde no comércio do centro da cidade, dizendo a ele que não a esquecesse. Ele, obcecado, pega todos os dias o bonde cinco minutos atrasado e desce no comércio, tentando encontrá-la (fica assim durante um mês).
Acontece que ele a encontra num teatro, sentando ao seu lado. 
Descobre seu nome, Carlota. Nas semanas seguintes, ele descobre o enderaço dela e a visita sempre. Depois de muitas visitas e de já estarem apaixonados, ela o mostra seu rosto, que ele considera lindo. Ele a pede, mas ela dá um toco nele, dizendo que tem tuberculose e está em fase terminal, definhando. Ela decide, então, ir para a Europa.A mãe dela, vendo que o rapaz era capaz de dar mais forças à filha, o chama para ir à Europa se ele assim quisesse; ele aceita. Atrasado para o embarque, ele chega a tempo de ver o navio zarpando e Carlota chorando: ele grita para que ela a espere, pois ele pega o próximo.A cada porto que ele ancorava, ali encontrava uma carta de Carlota, que o deixa esperançoso. 
Encontram-se na Europa, ela em estado crítico. No leito de morte, ela pede a ele que a beije uma última vez. No beijo, ela é curada (que coisa estúpida, cá prá nós!). Ela então conta sua história através de cartas, enviadas para sua vizinha Carolina (a viuvinha), esposa do narrador (Jorge).


 A Pata da Gazela
Também chamada de “Cinderela Brasileira”. Conta a história de Amélia, Horácio, Leopoldo e Laura (prima de Amélia), todos eles da elite burguesa do Rio. Horácio, conhecido como “Leão da Rua do Ouvidor”, encontra um pé dos sapatinhos de Amélia, caídos da carruagem da moça, e a procura.Vão, então, ao teatro, Horácio, Amélia e Laura (juntos) e sentam-se nos camarotes. 
Leopoldo, um rapaz desleixado ao se vestir e com um “ar blasé” (meio down por causa da morte da irmã), assiste da “geral”, de onde vê Amélia nos camarotes (amor à primeira vista).Ao procurá-la na saída do teatro, vê uma confusão de pessoas perto da carruagem dela e, no meio dessa confusão, vê um pé aleijão (deformado, muito grande) e acha que é de Amélia. Num sarau na cidade, Horácio pede Amélia em casamento.
No mesmo sarau, depois da proposta, Horácio conversa com Horácio, que conta a história dos pés de Amélia, que ouve a conversa e decide testar o amor de Horácio: chama-o para conversar em sua casa e deixa que ele veja, “acidentalmente”, seus sapatos enormes. Horácio, horrorizado, termina o noivado e se aproxima de Laura.Amélia, entao, se aproxima de Leopoldo, se apaixonando (é recíproco e ele a pede em casamento). Num outro sarau, Leopoldo anuncia o noivado com Amélia e ela revela que os pés dela são perfeitos: Laura é que tem pés deformados e, para não causar escândalo, sua prima Amélia comprava os sapatos. E daí vivem felizes pra sempre.

 Lucíola
Releitura de “Dama das Camélias”, peça teatral, essa obra representa uma mudança nos romances românticos, apresentando como heroína uma prostituta, algo que ia contra a moral e os bons costumes, e um final trágico. Lúcia, protagonista, é uma menina pobre que se prostitui (nome profissional: Lucíola) ainda nova para poder comprar remédios para sua irmã (febre amarela). Seu padrasto, ao descobrir, a expulsa de casa (com 16 anos).Para se sustentar, continua no ramo, abrindo um bordel e virando cortesã de luxo (dos senhores burgueses). Apaixona-se por Paulo, com quem tem relações amorosas, além de “profissionais”. Tenta viver uma vida normal com Paulo, mas percebe que sua imagem de prostituta não seria esquecida pela sociedade.Para afastar-se, então, de Paulo, ela sai com outros homens. Ele a procura e ela resolve ser honesta com ele. Não se importanto com a imagem dela, ele volta com ela. Mas ocorre uma tragédia: ela contrai tuberculose (para que ela se redima de seus pecados de prostituição e para que o público a veja como ‘coitadinha’, Alencar acrescenta a doença e o sofrimento na vida de Lúcia).Paulo compra todos os remédios possíveis (vai a té a Europa, inclusive). Lúcia descobre, então, que está grávida de Paulo: com o choque, falece. Sua morte deixa o público com pena dela, transformando-a em heroína.

 Senhora
 Ponto alto do psicologismo romântico, apresenta personagens esféricas e uma trama que muda de foco, mas tem um fim previsível. Aurélia Camargo vive com sua mãe e com seu irmão, doente. Seu pai é um rico fazendeiro, que casou com a mãe de Aurélia, pobre (o avô de Aurélia não aceita o casamento e o pai de Aurélia morre de desgosto).Vicente, o irmão, morre logo no início da trama e a mãe fica muito doente. Seu último desejo é ver Aurélia casada. Aurélia então, para satisfazer a vontade da mãe, expõe-se na janela, sendo cortejada por vários pretendentes. Entre eles: Eduardo, rapaz rico, por quem Aurélia não sente interesse e Fernando Seixas, um rapaz pobre (que se vestia da melhor forma e frequentava os melhores lugares para casar com alguma rapariga rica e poder sustentar a mãe e a irmã > ele vê o casamento como uma escada social), que é correspondido.Eles se apaixonam (a mãe de Aurélia morre em paz), mas Fernando Seixas, às vésperas do casamento com Aurélia, é comprado por um rico fazendeiro (que acreditava que Fernando fosse uma rapaz rico e requintado) por 30 contos de réis para que se casasse com Adelaide, sua filha. O fazendeiro faz isso para não ver sua filha casado com o pobre estudante de direito Torquato.Aurélia então, vendo-se trocada por dinheiro, tranca-se para os homens. Pouco tempo depois, recebe a notícia de que é a única herdeira de seu rico avô fazendeiro, que tinha se arrependido do mal que tinha feito à família do seu filho e pôs sua neta no testamento. Aurélia então, riquíssima, vai a bailes e, quando cortejada, fica colocando preços em seus pretendentes. Um certo tio Artur, ambicioso, fica de tutor de Aurélia e aconselha que ela pare com essa mania de ficar colocando preço nos rapazes, pois isso queimaria a imagem dela.Não dando a mínima para o que o tio aconselhava e o manipulando facilmente, ela manda que ele vá fazer negócios com Fernando Seixas, que ainda não tinha se casado com Adelaide, e que oferecesse para ele 100 contos de réis para que ele terminasse com Adelaide e se casasse com outra mulher, que só conheceria no dia do casamento.Apesar de titubear (dar uma de difícil), Fernando aceita e larga Adelaide. Enquanto isso, Aurélia contrata Torquato como seu advogado por 50 contos de réis, permitindo que ele use esse dinheiro como dote para que se case com Adelaide. Fernando, casando com Aurélia, recebe dela na noite de núpcias, os restantes 80 contos de réis que faltavam para completar o trato dos 100 contos de réis. Ela então trata-o como escravo (não sexualmente falando) e acaba com a raça dele.Vivem durante um tempo casados e ele arranja um emprego num jornal, com o objetivo de conseguir os 20 contos de réis que tinha gasto para poder pagar os 100 contos de réis de volta para Aurélia. Não conseguindo reunir todo o dinheiro, Alencar faz com que ele ganhe na loteria, completando os exatos 20 contos que faltavam. Ele então, entra no quarto dela e lhe entrega os 100 contos, “se comprando” de volta.Ela então, ajoelha ao seus pés e todo aquele blá blá blá romântico de sempre até o “viveram felizes para sempre’. Importante notar que existem, na obra, traços do realismo: Aurélia, por exemplo, não é mais uma personagem linear (ela é esférica, por mais magra que seja), apresentando comportamentos diferentes antes de ser trocada por dinheiro, durante o período que ela esnoba os homens e no momento que se ajoelha aos pés de Fernando.
Há também, três críticas principais nessa obra: ao poder manipulador do dinheiro, ao casamento por conveniência e à sociedade patriarcal (ele anula todos os homens próximos à Aurélia, transformando-a em Senhora de si e de todos).

Outras Obras : O Guarani, Diva, Encarnação e Sonhos de Ouro.